Carménère: de extinta à representante
da vinicultura chilena
Originalmente era conhecida no séc. XVIII como "Grand vidure" mas essa designação sumiu no decorrer dos tempos. Devido
á sua recente redescoberta (meados década de 90) no Chile, não há hoje vinhos
Carménère de mais de 8 anos, mas é uma uva com grande potencial para guarda de
10, 20 anos, ou até mais.
Hoje, pode-se dizer que a Carménère é uma uva chilena, e lá encontra sua
plena expressão, mas aparece também na Califórnia e na Argentina. Os vinhos são
via-de-regra varietais, mas podem aparecer combinados com Cabernet Sauvignon,
ou mesmo Shiraz. Alguns Tops chilenos usam Carménère em seu corte.
Para aqueles que já estão um pouco mais entrosados com o universo do
vinho, quando se fala na uva Carménère, normalmente associa-se essa variedade
ao Chile, pois se trata da casta emblemática daquele país. Mas você sabia que a
Carménère era uma variedade considerada extinta e que só foi redescoberta em
1994?
A uva tem uma história bastante interessante. Originária de Bordeaux,
região da França, foi destruída nos idos de 1880 por uma praga chamada
Filoxera, que acometeu os vinhedos da Europa. Causada por um inseto, essa praga
reduziu a produção francesa quase à metade naquela década. Depois de perdas
supostamente irreparáveis, como a extinção da variedade Carménère, descobriu-se
que a única defesa contra a praga da Filoxera era o enxerto de vinhas europeias
nas raízes resistentes americanas, imunes à infestação. Todos os vinhedos
europeus foram replantados desta forma.
Estudando as vinhas do Chile, em 1994, o pesquisador francês Jean-Michel
Boursiquot observou que em algumas plantações a uva Merlot demorava mais a
maturar. Depois de alguns testes, ele descobriu que a antiga variedade francesa
Carménère havia sido cultivada junto com pés de Merlot.
O que provavelmente aconteceu é que os colonizadores europeus, bem antes
da praga, trouxeram mudas de Carménère para o Chile e plantaram a variedade,
tendo esta se adaptado muito bem às condições locais.
Levada por engano aos vales vinícolas chilenos, a Carménère se adaptou
ao clima agradável e aos solos férteis obtendo êxito ao ponto de ser
considerada uma das uvas mais importantes do Chile por sua qualidade e sabor
excepcional. É no Vale do Colchagua onde está seu maior cultivo, que se mantém
restrito ao Chile devido à fragilidade da cepa, que sobrevive graças ao bom
clima e solo, mas, sobretudo, ao isolamento físico e geográfico criado por
barreiras naturais como o Oceano Pacífico, o Deserto do Atacama, a Cordilheira
dos Andes e as águas frias do provenientes do Polo Sul, que protegem essa
região de pragas.
As mudas de Carménère sobreviveram no Chile pelo fato do país possuir a
maior proteção natural do mundo. A Cordilheira dos Andes de um lado, o oceano
Pacífico do outro, o Deserto de Atacama ao norte e os glaciais ao sul.
Os vinhos produzidos a partir da cepa Carménère possuem cor vermelha
lilás, bastante profunda, aromas de frutas vermelhas, terra umidade e
especiarias com notas vegetais que vão se suavizando na medida em que a uva
amadurece na própria planta.
Os taninos são mais amigáveis e suaves que os do Cabernet Sauvignon.
Notas vegetais tornam-no, porém menos elegante que um Merlot. Faz um vinho de
corpo médio, fácil de beber e que deve beber-se jovem, quando apresenta sabor
persistente que tende ao gosto de framboesa madura e beterraba doce.
Além disso, os vinhos feitos com esta uva são normalmente mais delicados
e fáceis de tomar, agradando muito aos paladares femininos e também seduzindo
os homens por dar origem a vinhos secos. Tem como características notas
herbáceas, de frutas vermelhas e especiarias. Pode ser bebido jovem com prazer.
Então, quando abrir um Carménère lembre que além do vinho você está
apreciando um pouco de história. No mínimo será uma boa curiosidade para contar
aos amigos.
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